O dólar encerrou esta quarta-feira, 27 de novembro, com alta de 1,8%, atingindo R$ 5,9141, o maior valor de fechamento já registrado. Durante o dia, a moeda chegou a alcançar R$ 5,9310. Esse movimento reflete a apreensão do mercado diante da falta de clareza sobre o cenário fiscal brasileiro e da expectativa pelo anúncio de um pacote de medidas econômicas prometido há semanas pelo governo federal.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve apresentar ainda hoje um conjunto de ações que inclui uma nova faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para rendas de até R$ 5 mil mensais, conforme promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida, embora positiva para as classes médias e baixas, levanta dúvidas sobre como será financiada, gerando desconfiança nos investidores.
Impacto no mercado
A incerteza sobre os detalhes do pacote fiscal contribuiu para a desvalorização do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, que caiu 1,73%, encerrando o dia em 127.668,61 pontos. O movimento reflete a postura defensiva do mercado diante da possibilidade de elevação de gastos públicos e da ausência de um plano claro para cumprir metas fiscais.
Além disso, o aumento do dólar também foi impulsionado por fatores externos, como a política monetária nos Estados Unidos, que fortalece o dólar globalmente, levando investidores a buscar mercados mais seguros e afastando-se de emergentes como o Brasil.
Renúncia fiscal e projeções econômicas
A proposta de isenção para rendas de até R$ 5 mil pode representar uma renúncia fiscal bilionária. Lula já havia implementado uma isenção parcial para rendas de até R$ 2.640 mensais, com impacto de R$ 36 bilhões anuais. A nova faixa ampliará significativamente esse valor, com estimativas variando entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões anuais, dependendo do desenho final da medida.
Essa renúncia contrasta com o esperado pacote de cortes de gastos, que era visto pelo mercado como um sinal de compromisso com o equilíbrio fiscal. No entanto, integrantes do governo, como o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, indicaram que o pacote incluirá também medidas como taxação de super-ricos, buscando compensar o impacto das renúncias tributárias.
Histórico e contexto atual
O recorde anterior do dólar havia sido registrado em 13 de maio de 2020, durante a pandemia de COVID-19, quando a moeda chegou a R$ 5,9012. Desde o fim de 2023, quando o dólar estava em R$ 4,85, a valorização acumulada é de 22%. Esse aumento reflete tanto fatores domésticos, como a indefinição fiscal, quanto externos, ligados à volatilidade do cenário internacional.
A situação ilustra a crescente pressão do mercado por medidas concretas de ajuste fiscal. A credibilidade do governo será testada em 2025, quando o cumprimento do novo arcabouço fiscal será crucial para recuperar a confiança de investidores e estabilizar a economia brasileira.
Próximos passos
Com o pronunciamento de Haddad agendado para esta noite, o mercado busca sinais mais claros de compromisso com a disciplina fiscal. No entanto, a reação inicial às medidas indicadas reflete o ceticismo quanto à capacidade do governo de equilibrar os compromissos sociais com as metas fiscais exigidas pelo novo arcabouço econômico.
A evolução desse cenário dependerá do detalhamento do pacote fiscal e da capacidade do governo de implementar as medidas prometidas.